CRÍTICAS DOS ESQUETES - 8º FESQ - por Jiddu Saldanha

COLEÇÃO PARANÓIA

Grupo Casa Bruta Coletivo de Teatro / Belo Horizonte – BH

Direção: Alessandro Aued

Autor: Criação Coletiva

Elenco: Júlia Marques, Lira Ribas, Pedro Plazzi, Ana Normand, Pedro Reis e Henrique Cordoval

Para além de um cena teatral em um festival de esquetes vejo neste “Coleção Paranóia” um experimento radical, uma espécie de postulado cênico visando uma outra possibilidade de interação com o expectador. Um espetáculo que causou forte sentimento de repulsa na platéia deixando marca indelével e que todos comentaram depois.

Cheguei a ouvir a seguinte frase de bastidores “este é um espetáculo que a gente odeia na hora e ama depois”! Pudemos constatar tratar-se de um trabalho com forte pesquisa e muito bem embasado e que produziu resultados condizentes com tendências que vão do teatro pânico de Fernando Arrabal ao cinema visual do chileno Alejandro Jodorowsky, com fortes referências aos mangás de Shintaro Kago.

O resultado foi um grupo de atores andróginos com grande vigor físico, executando cenas coreografadas e articuladas dentro da estrutura dos mangás, onde o grosseiro carregado de ironia, repulsa e deboche buscou confrontar valores das sociedades contemporâneas tendo como contraponto o forte tradicionalismo japonês.

Pude perceber que o grupo “Casa Bruta Coletivo de Teatro” esteve imerso numa pesquisa que aponta caminhos ousados e que busca na subversão total de costumes e padrões tanto éticos como estéticos, uma forma de teatro onde “o belo”, “o formoso” e “o bonito”, não interessam tanto. Antes, o grupo se ocupa do absurdo, do pânico e do maldito.

O que talvez tenha enfraquecido o desenpenho do grupo foi o que nos pareceu ser uma espécie de “teatro mensagem” onde o tema “aborto” foi colocado a partir de parâmetros bastante moralistas, não dando ao público, o tempo para refletir de forma mais profunda sobre a questão e/ou talvez a questão tenha sido colocada como uma discussão que parece um pouco anacrônica, não produzindo o desdobramento político esperado.

Talvez, a gama de informações e a complexidade da encenação tenha ofuscado o tema, ou o tema não seja mais tão polêmico nos dias de hoje.

Fernando Arrabal – (Espanha – 1932) Poeta e Dramaturgo espanhol, viveu grande parte de sua vida em parís e ficou conhecido por suas peças de teatro que flertavam com Teatro do Absurdo mas que foram ponta de lança do movimento Teatro Pânico. Peças como “Pic Nic no Fronte”, “Fando e Lis” e “O Arquiteto e o Imperador da Assíria” fizeram e fazem grande sucesso na dramaturgia mundial até os dias de hoje.

Alejandro Jodorowki - (Chile – 1929) Cineasta, escritor, poeta e performer, estudou mímica com Marcel Marceau nos anos 50 tendo, junto com Fernando Arrabal, criado o movimento “Teatro Pânico”. Fez o aclamado filme “Santa Sangre” que teve grande aceitação junto à crítica mundial. Atualmente trabalha com o cineasta estadunidense David Lynch.

Shintaro Kago – (Japão – 1969) – Escritor e desenhista, dedica-se ao mangá, sua obra é marcada pela escatologia, modificação do corpo, terror e quebra de padrões tradicionais da cultura japonesa. Arrebata uma legião de fãs pelo mundo todo, atualmente.

(Jiddu Saldanha)

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