CRÍTICAS DOS ESQUETES - 8º FESQ - "Vanisse no País das Armadilhas"


VANISSE NO PAÍS DAS ARMADILHAS.
Grupo: Cia. Religare de Teatro – Cabo Frio / RJ
Autoria e direção: Marcelo Tosta
Elenco: Rafaela Solano
  
O Retorno do Bruxo
Marcelo Tosta conseguiu três proezas numa mesma cena: Consagrar o talento da atriz Rafaela Solano, afirmar sua estética e retornar ao festival de Cabo Frio em grande estilo. Sim, o bruxo voltou.
Seu esquete “Vanisse no País das Armadilhas” não tem limite em fazer ousadas provocações. Uma delas foi o de confrontar uma atriz negra e de corpo avantajado num papel de leveza e profundidade ao mesmo tempo, calando o preconceito de alguns “desavisados” entre o público que pareciam querer vaiar a atriz, mas acabaram por se render ao óbvio, Rafaela estava segura e bem ensaiada trabalhou pacientemente o papel e se afirmou nas marcas levando o público a aplaudi-la de pé.
Mas a provocação apenas começava!
Tosta criou um texto enxuto, com uma intrincada trama psicológica chegando ao topo de seu próprio estilo. Ele foi fundo na questão da infância destruída e abandonada e fez uma radiografia da violência familiar onde o cinismo e a falta de respeito para com as crianças nos foi mostrado com farto  recurso e primor teatral.
Queríamos diversão e a tivemos, mas não sem um preço a pagar.
A reflexão sobre a amargura dentro dos lares brasileiros e o buraco bem fundo que nos metemos todos os dias para tentar salvar o país de uma estagnação que dura mais de meio século.
Marcelo deu esperança aos jovens que fazem teatro em Cabo Frio. A cidade vem a quase uma década amargando uma tremenda falta de renovação nos quadros de atores. Toda uma geração migrou para o Rio de Janeiro e não se sabe se alguns dias voltarão, o fato é que a cidade está com poucos atores e a maioria dos grupos estão parados.
A falta de produção somada ao embate político diário que exacerba as brigas e ampliam rivalidades cegam a cidade de cumprir seu primoroso destino, o de ser a jóia rara onde dezenas de grupos se encontravam para festejar ditirambos à luz da lua e o som do mar. Felizmente temos o FESQ que sobrevive a todas as provações e mantém viva a chama do teatro na cidade.
Marcelo Tosta imprimiu força na interpretação da atriz Rafaela Solano que nos mostrou destreza para segurar o papel. Os desenhos de cena foram equilibrados e a voz da atriz fluiu forte e segura com pausas corretas e intervalos que, somados, criaram momentos de rara beleza.

(Jiddu Saldanha)

Um comentário:

Rafael R. V. Silva. disse...

Este trabalho me deixou profundamente emocionado, não no sentido de catarse, identificação. Uma contemplação estética, uma emoção estética. Uma pena não ter seu reconhecimento entre os 3 melhores esquetes.
Jiddu falou breve e claramente sobre o atual cenário teatral cabofriense. Cabo Frio merece ver o renascimento do seu cenário teatral. Merece o retorno do festival de teatro estudantil que incentivou a criação de diversos grupos e a formação de um público variado.
Merece também um festival de teatro no inverno, sim!
Fico no desejo de retornar e no de seguir mundo a fora.