8º FESTIVAL DE ESQUETES
Resumo dos Comentários do Debate
Terça feira
Debater espetáculos exige dos debatedores que tenham a capacidade de deixar de lado os seus gostos filosóficos/ estéticos, e partam para uma análise a partir da proposta dos encenadores e se seus objetivos foram alcançados. O analista com esses preceitos terá a tendência de basear suas considerações, a partir dos limites e possibilidades do elenco na captação dos elementos da encenação e até que ponto a direção teve os instrumentos necessários para extrair do elenco a unidade cênica pretendida. É sobre esse viés que procurarei levantar pontos desta 8º FESQ.
Parabéns à pré- seleção e aos grupos que conseguiram apresentar esquetes que fecham a dramaturgia em si mesma como convém aos fundamentos da escrita teatral e o bom diapasão vocal que tiveram ao contar com singularidade suas tramas, tanto na linguagem narrativa como na coloquial. Contudo, especificamente alguns pontos serão levantados para que nos ofereça questões interessantes para o enriquecimento do nosso cabedal teatral e quem sabe, possa acrescentar boas discussões ao próprio elenco. Então vejamos:
Na Virtuosa do Grupo Ganna de Niterói, como ponto a notar que a nosso ver, possa ter quebrado a unidade da proposta consiste no excesso de tônus interpretativo imposto à atriz em contraposição à excessivamente insegura composição do ator. Ora, o texto que já delineava isso não poderia ter essa medida reforçada em cena, por conta de colocar o espetáculo na linha da caricatura que não é a proposta da direção. Pois, nos diz bem claro do jogo entre “o realismo e o simbolismo para ampliar as possibilidades interpretativas”.
Em A Menina Escondida no Baú do Grupo Risco Teatral de São Pedro da Aldeia, a montagem conta a trama com singularidade e simplicidade sem se arvorar em composições e partituras corporais mais ousadas, que às vezes resvala para o monocórdio. As atrizes para saírem dessa morosidade rítmica realimentam os seus clímaces se esgoelando, o que em alguns momentos precisos fragiliza a força dramática do trabalho.
Philip Glass Compra Pão do Grupo Nós em Meio ao Caos de Rio das Ostras, nos apresentou uma comédia musical elaborada na desconstrução dos signos gestuais, corporais, vocais calcada no minimalismo ao que o texto se presta e galga assim tudo que pretendeu na experiência colocando um importante pé na linguagem pós dramática.
Em DRs do Grupo Actuarte do Rio de Janeiro, a forma naturalista, relaxada e sem nenhum compromisso com os fundamentos básicos da interpretação se foi a intenção da direção demonstrá-la, precisa ser mais bem trabalhada para que tudo não pareça apenas um jogo de situações improvisadas do elenco.
Em Vanisse no País das Armadilhas da Religare Cia de Teatro de Cabo Frio, vê-se uma elaboração onde a atriz disponibilizou-se ao seu encenador para ambos conseguirem trazer a medida certa das filigranas psicológicas, físicas e verbais para compor as ações e reações da personagem, imersa entre os estados da paixão, da dependência e da dor.
Em E Se Fosse Você do Grupo Clã de Nós do Rio de Janeiro, mesmo que o grupo diga em sua proposta que não se trata de um número de “stand up comedy”, argumentando que traz no seu bojo outras fontes de pesquisas, nos mostrou que nada disso vem ao caso. Pois, apresentar com singularidade e humor a narrativa das ações e reações do conflito imaginário interiorizando-as em breves recortes corporais e verbais denota a qualidade da composição. Talvez, tempos mais dramáticos desses “feedbacks” resolvam a questão negada na proposta escrita da direção.
Quarta feira
A segunda noite do 8º FESQ foi marcada por esquetes que apresentou indícios interessantes de trabalhos voltados à pesquisa cênica, ora nos tons interpretativos ora na inserção de elementos complementares ao teatro, mas que, a nosso ver, ainda estando em estados de investigação nos instiga a uma colaboração mais pontual para as suas construções.
Lagartos, Grupo Lagartos do Rio de Janeiro, infelizmente, as intenções do espetáculo em nos trazer as reflexões contidas na encenação não nos chegou, por conta da mesma ter ficado na intimidade do realismo pretendido. Esse condicionamento íntimo e umbilical talvez tenha imprimido uma pequena emissão vocal, deixando-nos bem distantes dos possíveis conflitos construídos por conta da audição.
A Mais Forte, Estruturada da Cia Teatro da Estrutura do Rio de Janeiro, foi um dos trabalhos apresentados que enveredou pelo plano da experimentação. Tudo que o Grupo descreve na sua proposta é realizado em cena de forma compartimentada: esboços de um frágil e repetitivo realismo que descamba quase sempre para um expressionismo forte e contundente. Ou seja, as partituras da encenação são todas muito bem feitas, tudo que cabe nos detalhes das composições estão presentes na cena. Agora, por que quando começamos a montar o nosso quebra-cabeça para entendê-la ou mesmo senti-la, ela não nos pega com todas estas perfeições mostradas? Será que a profusão de experiências sufocou o conta (ação) da trama? Essa é uma questão para o grupo resolver...
A Outra História de Barbie do Grupo Os Papibaquigrafos do Rio de Janeiro outra experiência que assumindo os breves momentos, assumidamente caricatos, buscou um elemento de pesquisa corporal mais raso, mas que não foi a fundo das suas possibilidades e até dos seus limites (a angústia da limitação) encontrados na articulação do boneco doméstico, talvez por acomodação da forma ou para não sacrificar o entendimento da trama. Uma situação totalmente oposta à do trabalho apresentado anteriormente. Portanto, apontamos a necessidade de um aprofundamento por conta das intenções de caráter investigativo contidas na proposta do Grupo.
Em Film Noir do Grupo Os Pataphisicos do Rio de Janeiro, nos trouxe uma experiência movida apenas pela reprodução da ação cinematográfica, onde o teatro serve como reprodutor do jogo, tendo o texto apenas como um fluídico pretexto para impulsionar as ações. A iluminação direta e indireta nos remete ao clima cinematográfico pretendido e tudo nos fica como mais uma das possibilidades de jogar com a cena, independente da dramaturgia. Nos fica como reflexão que as leituras cênicas dramatúrgicas podem ser construídas apenas de ações.
Já O Menino de Moony Não Chora do Grupo Gene Insano do Rio de Janeiro, nos conta a história narrativamente através dos personagens amarrados simbolicamente e redunda a ação na imagem projetada tentando resgatar o realismo contido no texto, o que nos suscita algumas propostas e reflexões. Por exemplo: diminuir o foco da ação corporal e gestual do ator, tudo bem! Isso pode nos remeter ao plano do psicológico que é uma dos meios de identificação do realismo. Então, por que, em sendo o grande desafio da pesquisa, a interseção da imagem, não construí-la pelo plano do psicológico e não apenas redundá-la a partir da narração frontal.
Em Selvageria no Elevador Vermelho do Grupo Os Despretensiosos de Niterói. Utiliza a linguagem do absurdo, buscando na trama da clausura inusitada a construção de dois tipos histriônicos que se confinam e se identificam até não se suportarem mais. Alguma coisa aconteceu na cena, talvez uma excessiva aceleração corporal e vocal das ações e reações no restrito espaço cênico, que acabou fazendo com que o texto se perdesse naquele emaranhado de frissons femininos.
Em A Noiva Que Virou Santa da Cia Círculo Teatral do Rio de Janeiro, que primando por contar a história, ora narrando ora interpretando nos mostrou um trabalho simples e direto que em blocos de ação se desdobra como um coro em cena, remetendo-nos aos cortejos e procissões que fazem parte do nosso acervo místico cultural. O tom declamatório, em alguns momentos, apesar de necessário, fragiliza a composição, requerendo talvez uma maior atenção aos tons.
Quinta Feira
No geral, um dia de apresentações ainda em processos medianos para atingir resultados mais plenos das suas propostas, portanto as nossas considerações serão muito nesse sentido
O Movimento Mínino do Grupo Movimento Mínimo de Londrina nos apresentou uma série de desdobramentos corporais mínimos que situa os personagens entre a vida e a morte trazendo-nos uma dramaturgia de movimentos expressivos com rara beleza. As ações, reações e encaixes que vão se construindo com o elemento cenográfico coloca-nos no âmago dessa questão humana. O único e grave problema é que quando a fala acontece, ela não nos chega, fica abafada. Se nós nos propomos em uma montagem a dizer algo, além do corporal, há de ter trabalho para que tudo seja bem expressado.
Em Variações Sobre o Mesmo Tema do Grupo Sem Tema do Rio de Janeiro, vimos um interessante jogo coloquial construído a partir de tipos que poderiam ser mais trabalhados nos detalhes das suas composições, exigindo bem mais das possibilidades que os ótimos atores podem dar. Até porque a trama se trata de atores construindo personagens. Sem dúvidas, que o trabalho mergulhando mais em todos os elementos que os ajudem a construí-lo, ganharia na sua teatralidade, saindo assim, do primordial encontrado
Em Coleção Paranóia da Casa Bruta - Coletivo de Teatro de Belo Horizonte/MG, a experiência cênica demonstrada no espetáculo pautada no “sem sentido”, que é a fonte de pesquisa do Grupo e desconhecida por nós, mas que se assemelha com a linguagem do absurdo na generalidade das composições. Tudo nos pareceu profundamente visceral na elaboração estética do trabalho, que nos chega com uma tintura surrealista. Também, nos desdobramentos da busca existencial da personagem; esse embate com o real e o irreal acaba se perdendo no belo emaranhado das imagens, como se tudo isso também fizesse parte do mesmo “non sense”. Proposital ou não esse nosso sentimento de perda, nos fez falta.
Em Sonhos da Cia Aqueles do Teatro Instável de Cubatão, vimos, em cena, pontos de possibilidades infinitas para seguir tudo aquilo que Grupo propõe no seu projeto. Tudo está lá, desde a excelente composição das imagens que expõe todo o clima do pesadelo real requerido, até a interseção dos atores interagindo com as imagens, mas tudo fica apenas nos plano do ilustrativo com movimentos aparentemente soltos sem a teatralidade necessária que dê conteúdo dramático às ações.
O elenco do Papo Furado do Grupo A Chacrinha do Rio de Janeiro, se diverte em fazer a comédia e por extensão atinge a platéia no que se propõe pela liberdade de composição que a direção deu à cena e pelo pontual tempo de comédia dos atores. Portanto, quando todos os objetivos requeridos são atingidos não temos muito a comentar, pois até as inclusões desnecessárias à trama, se mostram cabíveis desde que a inteligência esteja presente para provocar o riso.
O jovem elenco em Pecados Pessoais de Volta Redonda se entrega de corpo e alma para resolver a difícil empreitada de mesclar cenas do cotidiano e emitir conceitos com uma verdade interpretativa tão visceral que os faz plenos no trabalho. Tudo acontecendo em desdobramentos coletivos contínuos, onde a entrega total, acaba deixando-os extenuados os fazendo recorrer aos gritos, nos clímax da maioria das últimas cenas. Uma correção na contenção do trabalho vocal os fará encontrar um tônus mais adequado às suas possibilidades,
Sexta feira
Um dia de montagens parcialmente resolvidas, tudo que você poderá sugerir não acrescentará nem para mais, nem para menos. Portanto a nossa análise será muito mais voltada ao que funcionou ou não na atenção do público.
O Bilhete da Sorte da Cia Cúpula de Teatro do Rio de Janeiro a meu ver apresentou um dos trabalhos mais bem elaborados desse festival. Os atores se desdobram nos tipos das suas composições ocupando toda a área cênica do palco em um jogo pantomímico visceral onde todos os seus detalhes reativos tendo como eixo propulsor a narração radiofônica das ações e os diálogos que se intercala, contribuindo para uma leitura apurada da encenação
Do Outro Lado do Grupo Entre Nós do Rio de Janeiro divide a responsabilidade difícil de dar vida cênica à descrição de uma mulher podada do encontro ao seu objeto de desejo que, mesmo a encenação tendo-a dividida em duas atrizes para facilitar o jogo dos estados psicológicos da personagem para dar mais liga ao excesso narrativo, não consegue alcançar climas dramáticos necessários para nos atrair nas nossas atenções.
Distorções do Grupo Isabel Stewart de Belo Horizonte nos traz um interessante exercício do teatro físico que navegando pelas áreas do patético, do lascivo, do acolhimento materno e da perversão para dar tônus às variadas reações de um relacionamento desfragmentado que incomoda, deixando na cabeça da platéia o asco pretendido. E que bom quando as proposições pretendidas no teatro são alcançadas.
Almondegas Surpresa do Grupo Bruzundangas do Rio de Janeiro, cria uma boa ambientalização cenográfica para acolher toda uma dissimulação de um casal no extremo da sua relação dentro de um realismo que, ficando, mais a mercê do potencial interpretativo de cada um dos atores expõem a trama com simplicidade, sem maiores contornos que enriqueçam o jogo.
Esperando do Arte e Corpo Teatro e Cia de Niterói, realiza uma composição, a partir de dois personagens clownescos nos estados negativos e positivos, dispostos a uma corda que se desdobra nas ações como em um simbólico “trouvaille” cenográfico que, ora os une ora os desune em um jogo interessante e bem composto nos seus estados d’alma.
O Ator Emparedado do Grupo Quarto de Teatro de São Gonçalo, é um magnífico solo construído entre a mímica visceral na interpretação das falas e a pantomima expressionista nos movimentos, onde é exposto toda uma gama de recursos e vigor cênico, dando-nos o vislumbre de entrarmos no âmago e no arredor dessa dor irônica de um ator que no camarim se deixa consumir pelo seu próprio personagem.
“Somente a arte é capaz de nos trazer sobrevidas e somente o teatro é capaz de fazer com que toda uma platéia se esvaia em lágrimas quando ele próprio é palco para essa superação”.
(Dedicado ao Gregório ao Trajano e à Cacilda)
Resumo das análises feitas por José Facury Heluy
(Professor, autor, cenógrafo e diretor teatral)
Debatedor do 8ºFESQ
7 comentários:
Não há comentários sobre as duas últimas esquetes citadas?
A Cena Coleção Paranoia é de Belo Horizonte - MG!
a cena COLEÇÃO PARANOIA é do CASA BRUTA - Coletivo de Teatro// Belo Horizonte-MG
Acho que a crítica no teatro, como em qualquer outra, deve ser exposta e recebida como uma análise técnica do trabalho. Mas o que, infelizmente, aconteceu nos debates foi um despejo de opiniões, em sua maioria vazias, que psicologizaram ações mínimas, detalhes que podem e devem ser melhorados, mas nada que desmereça a o trabalho do ator. Pessoas consideradas formadoras de opinião deviam ter mais cuidado com isso, pois não se trata de reduzir os trabalhos aos defeitos, pois esses mesmos trabalhos foram capazes de despertar algum sentimento em alguém na platéia, e isso já vale. Um Festival serve pra mostrar o trabalho, receber as críticas CONSTRUTIVAS e melhorar a arte de cada um, dentro da proposta de cada um. Para um formador de opinião que se diz entender de teatro, pode até entender a técnica, mas de repente lhe falte entender o "fazer teatral" porque o espetáculo nunca estará pronto e sempre merecerá respeito, pois nunca se sabe quem na platéia pode ter sido tocado por ele. A organização foi ótima, parabéns ao Pablo e ao Yuri. No próximo ano, que se tenha apenas mais cuidado na hora de pensar nos críticos e nos jurados. O ponto onde se pecou no 8°Fesq de Cabo Frio foi exatamente na escolha destes.
Nayara.
gostei apenas de algumas peças...mais tambem esse ano estava muito disputadO!!!parabens a todos .... fesq pra sempre!!
comentários de todas as cenas reeditados!!! Agradecemos as sugestões e FESQ pra sempre!!! A Produção
Parabéns a todos da produção do FESQ 2010. Foi muito rico ter participado. Obrigada, Izabel
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