COMENTÁRIOS DOS TRABALHOS PREMIADOS NO 9 FESQ - por Jiddu Saldanha

Retirado do site: www.teatropossivel.blogspot.com
É isso aí, pessoal, este é o espaço do blog Teatro Possível voltado para comentar de forma específica os trabalhos que foram premiados no 9º Fesq. Esperamos com isso, estabelecer um diálogo e valorização dos trabalhos apresentados, levando em consideração a visão crítica inspirada em diálogos com o Júri, o Público e nos debates.



Sobre Viventes


Cia 5ª Marcha – Belo Horizonte


Prêmios:


Melhor atriz para Dayane Lacerda


Melhor esquete


Melhor direção

Dayane Lacerda - Prêmio de Melhor atriz no 9º Fesq.


O espetáculo “Sobre Viventes” flerta com o melhor da linguagem contemporâneo sem perder o vigor poético e ético de bom teatro. Posiciona em cena dois excelentes atores (Rafael Lucas Bacellar e Dayane Lacerda) da nova geração de BH. Ambos pulsantes, apaixonados, técnicos e ao mesmo tempo passionais. Com a sensibilidade aberta para explorar, no placo, os caminhos labirínticos da arte de ator.


O esquete abordou de tudo. Além de boa literatura - pois o texto foi recriado a partir de obras de Ana Cristina César e Caio Fernando Abreu – as composições cênicas levaram ao palco um rico universo de signos para falar de dois poetas emblemáticos redescobertos por uma nova geração de diretores, cineastas, dramaturgos e por aí vai.


Na linguagem cenográfica, a disposição de objetos caoticamente organizados mostrou um ambiente de entrega absoluta e completamente mergulhado em metáfora. A fala das personagens atingiu nuances reais/poéticas presenteando o público com sentimentos de amor, compaixão e prazer. A abordagem sexual contundente fez o sensível interagir numa dimensão profundamente humana e o grupo revelou ao público sua própria capacidade de “entender” o mundo que estamos vivendo.


As bandeiras de luta, o engajamento social e a subversão da sexualidade programada pelo sistema são panos de fundo para um trabalho que produziu eco entre os expectadores, foram cenas com ritmo, boa voz dos atores, direção segura e até performance dentro da cena, pois, uma intervenção muito bem arquitetada pelo grupo fez a platéia dançar no palco junto com outros grupos presentes no festival, realmente, uma das mais belas cenas já vistas na história do Fesq.


Concluo dizendo que o júri acertou em cheio ao premiar “Sobre Viventes”. Isto era esperado pela platéia. Um espetáculo que conseguiu bons resultados não só pelo impacto do ritmo e do contexto mas também pela profundidade com que calou no coração de cada expectador ali, presente, naquele momento.




Acontecia em 1950


Cia Duplos - BH


Prêmios:


Melhor esquete pelo Júri Oficial


Melhor esquete pleo Júri Popular

No 9º Festival de esquetes de Cabo Frio, (Fesq) um trabalho focado no teatro físico chamou a atenção do público. Cenas como esta já era apresentada pelo grupo local “Os Intrusos” com uma pesquisa voltada para o Clown, utilizando riquíssimos recursos da palhaçaria teatral, já a Cia Duplos, trouxe uma linguagem toda focada na partitura corporal oriunda das escolas européias de mímica teatral e/ou teatro físico. O trabalho mostrou atores habilidosos, treinados dentro de uma concepção de teatro de vanguarda onde o resultado é divertido, embora descritivo.

O grupo escolheu como tema central um quadro do Pateta, animação da Disney, provavelmente de 1950, que dá título ao esquete. “Acontecia em 1950”.

Adaptado de forma inteligente, mas com o arcabouço dramatúrgico bem similar ao filme da Disney.

Em cena, os atores executaram de forma divertida e com nuances sutis a linguagem mimo-teatral de forma bem inteligente, com ritmo de desenho animado e gostoso de se ver. Sem dúvida um trabalho com efeito cômico que produziu resultado imediato levando a platéia ao encantamento imediato.

Mas uma das reflexões que quero fazer aqui é a escolha do tema e o propósito do elenco e da direção, ao executar algo inspirado em PATETA. Obviamente, que, de forma bem humorada o tema cai bem nos dias de hoje, principalmente no Brasil, onde o trânsito mata mais do que na guerra do Iraque, Afeganistão e Líbia, juntos.

A abordagem cômica e ilustrativa, recheada de humor e perfeccionismo coloca o problema sem discuti-lo. Uma dificuldade, talvez, deste tipo de teatro que surgiu, principalmente, muito mais como técnica para o ator do que propriamente para uma ação dramatúrgica mais contundente. Ainda falta, no teatro físico, um trabalho dramatúrgico mais aprofundado e mergulhado na realidade universal brasileira. Cada novo grupo que surge nesta área, acaba repetindo um padrão de composição muito adotado na Europa, principalmente pelos grupos espanhóis e ingleses.

Mas ainda que ausente de uma dramaturgia mais aprofundada o grupo Cia. Duplos tem o principal: Formação coletiva, nível técnico, empatia e Capacidade. Falta apenas, talvez, uma pesquisa mais aprofundada para construir trabalhos mais originais. Vamos esperar o próximo trabalho deste promissor grupo de atores mímicos, ou Teatro Físico, como queiram ser chamados.

(Jiddu Saldanha)

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