Diário do FESQ 2011
por Jiddu Saldanha - www.teatropossivel.blogspot.com
"A primeira noite do FESQ teve de um tudo. Desde atores mal
ensaiados a atores bem dispostos e com ótima técnica. Teve também direção
segura e insegura além de figurinos, carpintaria teatral, desleixo,
esquecimento de texto, improviso feliz enfim, como todo festival que se preze,
foi uma noite de estréia com tudo que se tem direito. A noite que se manteve na
média com espetáculos vindos de várias regiões do Brasil!
O teatro Municipal de Cabo Frio esteve com 80% da casa
cheia, um marco histórico para uma terça feira à noite, afinal, para se ter um
público assim, de forma espontânea é preciso ir muito além do improviso e
partir para a produção profissional. O segredo do Festival de Esquetes é, sem
dúvida, a formação de platéia e um corpo de voluntários antenados e apaixonados
pela arte do teatro. É um festival que tem pedigree, afinal, mostra uma forte
capacidade de mobilização.
Apesar da falta de financiamento para pagar custos pesados e
uma logística complexa, este evento traz para a cidade de Cabo Frio uma jovem
geração de artistas que muito em breve estarão, alguns, fazendo sucesso nas
principais casas de espetáculo do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e outros
estados.
O FESQ é um grande presente para a Cidade, pois forma
platéia para teatro, contribui para dar sentido à vida dos jovens e, com
certeza, tem papel importante na diminuição da violência além de contribuir
para a precária economia da cultura por aqui.
Acompanhem aqui, no blog, Teatro Possível, o que vai rolar
no FESQ para os próximos dias.
Dia 24 de Agosto de 2011 – Segundo dia de muita diversão.
Uma das tendências do FESQ (Festival de Esquetes de Cabo
Frio) este ano é, sem dúvida, a presença de comédias. A Comédia é um gênero de
teatro muito forte no Rio de Janeiro, um estilo de teatro que a cidade exporta
para todo o país, criando tendências e influenciando a cena popular, desafiando
o ator a tornar sua performance sedutora aos olhos do público.
Mas, claro, a presença do teatro engajado estava lá, firme e
forte. O teatro de protesto na versão 2011 mostra uma geração antenada
discutindo a problemática da existência humana. A inquietação, as bandeiras de
luta para questionar a trama social e recriar paraísos aqui na terra. Teve de
um tudo.
O Apresentador, Rodrigo Rodriguez, definitivamente mostrou
porque é imbatível sua presença na frente do palco, desviando a atenção do
público para o prazer da arte sem cair na armadilha da competição.
A Oficina do fotógrafo Alexis Malabi, comendo solta, com
gente clicando o festival de todas as pontas possíveis e carismática atriz
mineira, Mariana Jacques, dando um toque na cena contemporânea, trazendo a
grande novidade do teatro nos últimos 10 anos. O Solo Narrativo, gênero
estético que consagrou Júlio Adrião, o mestre da atriz.
Nos debates, o couro comeu, Fábio Fortes e Vivian Sobrino,
este ano, trouxeram força e energia, com uma contagiante paixão pelo teatro que
está dando o que falar, artistas saíram de olhos brilhando com tanto
aprendizado e troca democrática de um conhecimento que, hoje, já não é mais
apenas um privilégio dos artistas medalhões da mídia. O teatro popularizado no
Festival de Esquetes mostra como sua prática se tornou possível, apesar dos
pesares.
Na frente do teatro; antes da coisa toda começar, Alexandra
Arakawa e Manu Castilho botando pra quebrar na Mais Ratona, a deliciosa
maratona fotográfica, mostrando as obras dos fotógrafos de Cabo Frio.
No arremate, e já esquentando os gogós, a Casa da Poesia de
Arraial do Cabo trouxe a literatura para a fila de entrada do teatro,
simplesmente um diferencial onde o público, enquanto aguarda, se delicia com a
poesia de Vitorino Carriço, um mestre da palavra! Cadê você, Zé Antônio? Cadê
você, Rodrigo Poeta, a fila ta parada esperando os artífices da palavra de Cabo
Frio, borá lah!
Dia 25 de agosto de 2011, experimentalismo, sofisticação e
caos poético.
Momentos de “tensão poética”, com cenas diversas e estéticas
variadas. Podemos dizer que o Fesq
(festival de esquetes de Cabo Frio) são vários festivais dentro de um único
festival. Além de mostras com variedades artísticas locais.
Discussões em torno da violência urbana, diversidade sexual
e cidadania estiveram nas entrelinhas de alguns trabalhos e escancarados em
outros. A noite do dia 25 de Agosto mostrou, como sempre, a diversidade de
linguagem estéticas com variedades de atores de diversos naipes e correntes de
pensamento do teatro.
Foi também uma noite de consagração do apresentador Rodrigo
Rodrigues, que, com sua verve artística e imensa capacidade de improvisar,
arrebatou o público com tiradas de grande fôlego humorístico mas não menos
reflexivo. Por traz da personagem
“infantil”, Rodrigo, arrasou, sempre de forma humorística, mostrando as
mazelas de uma infância completamente “perdida”.
Foram momentos de encantamento, reflexão e muita adrenalina
no palco, mostrando que a arte de ator segue com grande poder comunicativo e
muita empatia com a platéia crítica e formada já há 9 anos, pela diversidade do
Fesq. Um dos mais importantes festivais de cenas curtas do Brasil.
Dia 26 de Agosto, uma noite com muitos artistas iniciantes.
Trabalhos não tão maduros com artistas iniciantes foi
praticamente o mote da ultima noite do Fesq, antes da classificatória final das
peças escolhidas pelo Júri. A apresentadora da noite foi Monayra Manon,
personagem do genial ator Rodrigo Rodrigues que já apresenta o evento pelo
quarto ano consecutivo. Monayra deu um show, como sempre, desta vez trazendo
uma grande novidade, parte do seu figurino criado por Nicolle Loup,
especialmente para ela.
A surpresa, talvez, foi o fato de ter 3 comédias na final,
realmente, um resultado diferente e que consagrou, este ano, a comédia como um
dos gêneros teatrais mais exibidos durante o festival. A final não teve nenhum
solo escolhido pelo Júri e a própria curadoria, este ano, dentro de 28 peças,
classificou poucos solos, priorizando o teatro
de grupos maiores e com números mais substanciais de atores em cena.
Coincidência? Tendência? Fica a pergunta.
O trabalho voluntário dos participantes do Fesq, este ano,
como em todos os outros, vem fazendo bonito e, num ritmo de muita organização,
trabalham se preparam para um final apoteótico, hoje, dia 27 de Agosto de 2011,
um sábado.
por Jiddu Saldanha – www.teatropossivel.blogspot.com
- A Produção do FESQ fica honrada e amarradona pelas suas palavras - Valeu Jiddu!!!
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