O DOTE OU VENENO COLORIDO (Grupo Limiar de Teatro - Rio de Janeiro/RJ)O jogo se instala na desconstrução
do melodrama em prol de uma linguagem recortada de gestuais e climas onde os personagens
interagem em rupturas espaciais preservando a unidade do elenco com a força
necessária para atingir o público. Uma prova cênica viva que podemos
experimentar a linguagens que quisermos no teatro sem nos afastamos da verve
comunicativa que torne o público inteligente do bom texto e da leitura cênica
apresentada. Força, ritmo e tempo contribuíram para essa força se dar.
SEGREDO: A LÁGRIMA DO PALHAÇO (Grupo Atos e Cia Expressart - Nilópolis/RJ)Uma série de
composições lúdicas interessantes no
coro, onde cabeças de palhaços se multiplicam é um achado interessante na forma
e no conteúdo simbólico e de bom apelo visual para pontuar o monólogo que, na
medida que nos deleita também nos afasta daquilo que é dito em cena. Como os
signos deste desdobramento na realimenta a teatralidade, o espetáculo fica lá
no palco entre os realizadores do jogo, apesar da sua bonita pintura visual.
ACORDADOS (Grupo Lacuna - Rio de Janeiro/RJ)A encenação
desenvolve uma interessantíssima teatralidade cômica, onde a sátira, o meta
teatro, a crítica do envolvimento ao clássico shakespereano ao longo da sua
história, são meros pretextos para uma brincadeira que trafega pela contação
vivencial e a retoma com leveza em ótimas composições com perfeito domínio da
narrativa e da ação. Cenograficamente as áreas neutras, simbólicas e gráficas
pontuam de forma magistral as composições revelando-se como o achado magistral
que dá potência comunicativa ao vigor cênico do elenco.
O LEITOR (Cortejo, Teatro em Cia - Três Rios/RJ)O drama que mescla a narração
com a ação, pelas necessárias rupturas, caminha em uma tênue linha, onde só quem
a concebe e a expressa pode amarrá-la para que o público não perca a sua emoção
rompida com fluidez pela narrativa. Consiste aí, a força do trabalho, onde os
atores fazem essa transposição tornando-nos participes, tanto de uma como da
outra gramática cênica. A direção modela as composições a serviço desse jogo, também
sempre abrindo brechas, para que também o participemos dele sensitivamente. Um
distanciamento, sem, necessariamente, quebrar frontalmente a tal quarta parede.
NOTAS DE BATOM (Cia Crônica de Teatro - Belo Horizonte/MG)A narrativa no
monólogo é muito bem expressa, clara, concisa, assim como um desfio em que a
atriz nos faz como público coadjuvante da sua ação. A inquietação que nos chega, resultante da sua composição nos leva mais a apreciar os detalhes da sua composição,
distanciando-nos do jogo. Mas a proposta não essa, mas sim deixar-nos
desconfortáveis na nossa “normalidade” no papel de tratador sócio mental
conduzido a sê-lo. Fica-nos uma pergunta, tudo em cena está bem representado e
o elemento signo primordial que dá nome à cenas enriquece ainda mais isso.
Então, o que faltou para que, a partir da teatralidade expandida nos tornemos
mais integrados à ação?
ENTRE PAREDES DE SANTA CLARA (Grupo Risco Teatral - São Pedro da Aldeia/RJ)Ter claro os
objetivos diante das diversas linguagens que estão aí postas a serviço do
teatro sempre nos beneficiará, tanto para o aprendizado do elenco como para o
crescimento intelectual do público. A cena ficou ali, quase que como uma
leitura de mesa caracterizada, para um pequeno público ao redor. Quando o elenco ao direcioná-la para a linguagem que achar conveniente para transformá-la em
teatralidade, aí sim ela sairá daquele claustro umbilical para arrebatar-nos em
dramaticidade.
José
Facury Heluy
Outubro
2012
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