ANÁLISE DAS CENAS DE QUINTA-FEIRA (FESQ/2012)


O DOTE OU VENENO COLORIDO (Grupo Limiar de Teatro - Rio de Janeiro/RJ)O jogo se instala na desconstrução do melodrama em prol de uma linguagem recortada de gestuais e climas onde os personagens interagem em rupturas espaciais preservando a unidade do elenco com a força necessária para atingir o público. Uma prova cênica viva que podemos experimentar a linguagens que quisermos no teatro sem nos afastamos da verve comunicativa que torne o público inteligente do bom texto e da leitura cênica apresentada. Força, ritmo e tempo contribuíram para essa força se dar.

SEGREDO: A LÁGRIMA DO PALHAÇO (Grupo Atos e Cia Expressart - Nilópolis/RJ)Uma série de composições  lúdicas interessantes no coro, onde cabeças de palhaços se multiplicam é um achado interessante na forma e no conteúdo simbólico e de bom apelo visual para pontuar o monólogo que, na medida que nos deleita também nos afasta daquilo que é dito em cena. Como os signos deste desdobramento na realimenta a teatralidade, o espetáculo fica lá no palco entre os realizadores do jogo, apesar da sua bonita pintura visual.

ACORDADOS (Grupo Lacuna - Rio de Janeiro/RJ)A encenação desenvolve uma interessantíssima teatralidade cômica, onde a sátira, o meta teatro, a crítica do envolvimento ao clássico shakespereano ao longo da sua história, são meros pretextos para uma brincadeira que trafega pela contação vivencial e a retoma com leveza em ótimas composições com perfeito domínio da narrativa e da ação. Cenograficamente as áreas neutras, simbólicas e gráficas pontuam de forma magistral as composições revelando-se como o achado magistral que dá potência comunicativa ao vigor cênico do elenco.

O LEITOR (Cortejo, Teatro em Cia - Três Rios/RJ)O drama que mescla a narração com a ação, pelas necessárias rupturas, caminha em uma tênue linha, onde só quem a concebe e a expressa pode amarrá-la para que o público não perca a sua emoção rompida com fluidez pela narrativa. Consiste aí, a força do trabalho, onde os atores fazem essa transposição tornando-nos participes, tanto de uma como da outra gramática cênica. A direção modela as composições a serviço desse jogo, também sempre abrindo brechas, para que também o participemos dele sensitivamente. Um distanciamento, sem, necessariamente, quebrar frontalmente a tal quarta parede.

NOTAS DE BATOM (Cia Crônica de Teatro - Belo Horizonte/MG)A narrativa no monólogo é muito bem expressa, clara, concisa, assim como um desfio em que a atriz nos faz como público coadjuvante da sua ação. A inquietação que nos chega, resultante da sua composição nos leva mais a apreciar os detalhes da sua composição, distanciando-nos do jogo. Mas a proposta não essa, mas sim deixar-nos desconfortáveis na nossa “normalidade” no papel de tratador sócio mental conduzido a sê-lo. Fica-nos uma pergunta, tudo em cena está bem representado e o elemento signo primordial que dá nome à cenas enriquece ainda mais isso. Então, o que faltou para que, a partir da teatralidade expandida nos tornemos mais integrados à ação?

ENTRE PAREDES DE SANTA CLARA (Grupo Risco Teatral - São Pedro da Aldeia/RJ)Ter claro os objetivos diante das diversas linguagens que estão aí postas a serviço do teatro sempre nos beneficiará, tanto para o aprendizado do elenco como para o crescimento intelectual do público. A cena ficou ali, quase que como uma leitura de mesa caracterizada, para um pequeno público ao redor. Quando o elenco ao direcioná-la para a linguagem que achar conveniente para transformá-la em teatralidade, aí sim ela sairá daquele claustro umbilical para arrebatar-nos em dramaticidade.

José Facury Heluy
Outubro 2012

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