CRÍTICAS DOS ESQUETES - 8º FESQ - por Jiddu Saldanha

PAPO FURADO
Grupo: Chacrinha – Rio de Janeiro/RJ
Direção: Gustavo Martinez
Autor: Jô Bilac
Elenco: Leandro da Matta, Wana de Souza Cruz, Rosangela Andrade e Gilberto Machado. (atriz substituta – Aline Vargas)

Desopilando o Fígado.

A Comédia muitas vezes é considerada um gênero menor quando apresentada em festivais de teatro e isso gera uma espécie de preconceito ao contrário; nos perdemos em avaliações estéticas outras e esquecemos que o papel do teatro é fazer pensar e divertir, não necessariamente nesta ordem. A comedia ainda tem seu lugar quando nos deparamos com trabalhos desconcertantes como este desopilante “Papo Furado” do consagrado autor de esquetes Jô Bilac, realizado pelo grupo “Chacrinha” e dirigido por Gustavo Martinez.
Um dos segredos da comédia é que você precisa ter sempre um ótimo ator que faça a piada ganhar potência e talvez um ator melhor ainda fazendo o que chamaríamos numa linguagem mais popular de “escada”. Esta forma de fazer teatro é a fórmula perfeita para que a comédia se instale e ganhe seu devido valor.
O Esquete “Papo Furado” realizou a feliz surpresa de escalar um elenco cúmplice, divertido e com um ótimo jogo de cena, destacando os dois artistas centrais da trama com performances impecáveis. O Ator Leandro da Matta com sua verve cômica e ótima dicção dava o texto no tempo exato, coisa fundamental num teatro de comédia, já a atriz Aline Vargas, não menos aparelhada, destilava elegância, tempo preciso e desenvoltura corporal a cada nova investida o que fez o esquete ser alçado à categoria de bom teatro.
O que sugerimos para a melhora desta cena é um cuidado mais esmerado com a questão técnica, talvez uma luz mais ousada possa realçar as texturas cênicas sem competir com o brilho dos atores que, numa comédia são mais importantes do que tudo.

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A OUTRA HISTÓRIA DA BARBIE
Grupo Os Papibaquigrafos
Rio de Janeiro / RJ
Direção: João Sant’ana
Autor: Andrezza Abreu, Karina Ramil e Anita Chaves.

Espetáculo divertido e correto com uma ótima desconstrução do universo fake, vazio e estranho que é para nós, a cultura estadunidense, através de um de seus ícones, a popular boneca Barbie. A atriz que desempenhou o papel conseguiu apresentar um estilo que mostrava ironia e beleza numa movimentação corporal que ia do centro à frente da cena.
Com o texto na ponta da língua e o “taime” de humor, as duas outras atrizes davam ótimos apartes fazendo disparar o imaginário da platéia numa “viagem” que oscilava entre o ingênuo e o jocoso.
O humor ácido e muito bem articulado pela dramaturgia do texto fez a peça embarcar numa espécie de comédia blazé com pitadas ácidas de crítica sutil ao consumismo e “falta do que fazer”! Um deleite para o público que riu muito e captou a crítica social proposta nas entrelinhas do esquete.
Destaco também a combinação perfeita entre proposta cênica e visual, através de figurino e cenário e principalmente o jogo de cores que dava harmonia à comédia no seu entorno.
O que talvez possa ajudar o trabalho a melhorar é um pouco mais de concentração das atrizes em dar o texto com dicção e energia para que o trabalho não vire um emaranhado de piadas, ao invés disso, investir mais na carpintaria da arte da atuação, melhorando a voz e a respiração para que o resultado se harmonize mais com a proposta.

(Jiddu Saldanha)

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E SE FOSSE VOCÊ AQUI... EXATAMENTE AGORA.
Grupo: Clã de Nós – Rio de Janeiro /RJ
Autor: Léo Castro
Direção: Bruna Campello
Elenco: Léo Castro

O ponto alto deste esquete foi o brilhante desempenho do ator Leo Castro que, com uma olhar seguro e uma interpretação firme conseguiu arrebatar o público levando-o para todas as direções cabíveis sem perder o fôlego em nenhum momento sequer.
O ator vigoroso fisicamente e cheio de desenvoltura no palco parecia fazer com facilidade algo que exige muito já que não é tão fácil interpretar tendo que segurar a respiração do público para fazê-lo explodir em gargalhadas no momento certo.
Apesar da proposta da direção negar tratar-se de um stand up comedy, a proximidade com esta linguagem é notória e até nos  perguntamos se não seria melhor assumir a cena em sua vocação natural, porque não? Não vejo mal algum nisso!
Discussões e nomenclaturas à parte,  acho válido mostrar algo assim num festival com tendência panorâmica como o de Cabo Frio. Fica aqui, no entanto,  a sugestão para que este brilhante ator volte ao festival com um trabalho que possa atender a seus recursos dramáticos mais profundos. A cena “Se eu Fosse Você... Exatamente Agora” deu uma indicação de melhor ator ao Leo Castro mas talvez não tenha revelado as pinceladas mais sutis de sua forma de interpretar.

(Jiddu Saldanha)

Um comentário:

Léo Castro disse...

Muito obrigado pela sua apreciação e opnião técnica. Sua crítica me emocionou e me deixou mais acreditado na minha função de ator. Se Deus quiser estarei aí no ano que vem e espero trazer uma novidade pra você e para este grande festival. Um forte abraço.


Léo Castro e grupo Clã de Nós.