ANÁLISE DAS CENAS DE TERÇA FEIRA (FESQ/2012)


ACORDA AMOR (Grupo Quatro Mãos - Rio de Janeiro)Excelente montagem, apoiada na linguagem do solo narrativo, onde os recursos da atriz se revelam em gestuais e partituras corporais miméticas bem dosadas, que se expandem para o imaginário da plateia com singularidade. A direção pontua essa disponibilidade, simplificando e contendo ainda mais os possíveis excessos para expressar a magia do conto de fadas, tornando a cena pontualmente brilhante.

OS METÓDOS DE ENSINO DA DONA MARAGARIDA (Cia Nós da Baixada - Nova Iguaçu)Com qualidade, a composição do coro para satirizar o autoritarismo irreverente da professora, deflagra um jogo de canto e contra canto interpretativo, através da boa interpretação das atrizes que prende o público na observação atenta da trama. No mesmo tempo que isso se dá, estagna a plateia da hilaridade que a direção tenta imprimir na encenação, que de certa forma impede uma entrega maior do público do que está sendo jogado em cena. O trágico se revela mais do que a comédia.

SOBRE DISCOS E OUTRAS SUTILIDADES (Grupo Os PataPHísicos - Rio de Janeiro)A montagem situada em uma ótima ambientação cênica que sugere o enquadramento gráfico da história de quadrinhos  evolui para um desfecho de situações que se conjugam como se um dependesse do outro para se resolverem. Tudo muito bem disposto e devidamente arquitetado para o jogo se concretizar, porém na tentativa de desfragmentar a interpretação naturalista, esse jogo acaba se estabelecendo muito mais entre os atores do que as possibilidades infinitas para alcançar o público.

DA ARTE DE NAVEGAR NA LUZ (Grupo Jiddu Saldanha - Cabo Frio)Um solo narrativo emoldurado pela mímica de estilo clássico com nuances na composição popular sempre oferecerá um significante campo laborial para achados importantes. Na montagem, o tratamento dado ao coro narrativo vem com o propósito do conto, porém a pantomima que é excelente quando ela se mostra como performance, na maioria das vezes, apenas ilustra a narrativa que de certa forma cai no gosto da plateia mais comum, mas que nos leva a sugerir mais investigação.

O DEPOIMENTO DA MULHER MORTA (Grupo O Coletivo Delirante - Macaé)A montagem trafega na procura de uma linguagem pós dramática em quase tudo que disponibiliza em cena, a partir da composição atoral, os símbolos e os ícones que descodificam seus estados naturais para propiciar essa desconstrução, que se revela como o eixo da trama. Porém, a intenção se mostra, expõe, mas não se sustenta, ao longo do tempo onde as interpretações e os próprios achados cenográficos vão se perdendo até o final, deixando-nos meio a parte do jogo estabelecido.

MULHER PERFEITA (Grupo Os Despretensiosos - Niterói)Um texto com construção precisa e elenco fazendo a leitura visceral daquilo a que ele se propõe sempre nos traz bons resultados. Trafegando ora no tragicômico, quando parte para a teatralidade e ora no melodrama quando narram, inclusive propiciando o cruzamento dessas duas linguagens que alguns teóricos insistem que são diferentes; atores e direção desta cena estabelecem o jogo necessariamente rico para o público se deleitar através do jogo, nos mistérios da dramaturgia apresentada.

José Facury Heluy
Outubro/2012

2 comentários:

Clebio Holanda disse...

Análise sensata e esclarecedora. Expressão do que sentimos e que se torna por vezes difícil de expor.

Eduardo Moraes disse...

Parabens a todos os grupos...acho importantissimo esse festival em Cabo Frio. Esse é o segundo ano que assito e pretendo ir a todas as ediçoes. Eu curto Fesq Cabo Frio.